Portugal está virado para o mar. De Norte a Sul, como um arrepio, os quase mil quilómetros de costa oferecem um sem-número de experiências, do mero desfrute da paisagem à adrenalina do desporto. E para toda a gente, até esta que vive o dia a dia numa europeia cidade de negócios.

Nasceu como ideia quando o Porto foi Capital Europeia da Cultura, mas só em 2005 as formas surpreendentes do arquiteto Rem Koolhaas passaram do papel para a pele da cidade. E logo para o seu coração, tornando-se o seu ícone mais recente, que acolhe músicas para todos os gostos e feitios.

Mais do que uma bela casa ou um jardim magnífico, sinal da riqueza de outros tempos, este é um centro de cultura. O Museu, assinado pelo célebre arquiteto Álvaro Siza Vieira, tem uma intensa programação dedicada à Arte Moderna, mas não se esgota nela. Espelha a cidade como um reflexo.

Estas encostas, trabalhadas ao longo de séculos como uma peça de arte, são uma homenagem à luta do homem com a natureza para fazer da adversidade um modo de vida. O que era difícil tornou-se belo. E útil: aqui se produz com arte e esforço o Vinho do Porto, um dos maiores embaixadores do país.

Como outra face da mesma moeda, as escarpas do Douro prolongam-se em propriedades como esta Quinta do Vallado, uma das mais antigas e famosas do Vale do Douro, fundada em 1716, por D. Antónia Adelaide Ferreira, a mítica Ferreirinha, que se mantém até hoje na posse dos seus descendentes. É exemplo do modo como a modernidade soube preservar acrescentando bem-estar.

Para se ter uma ideia do que é o Norte de Portugal há que entrar nesta casa barroca, percorrer as suas escadarias e salas que parecem continuar depois pelos verdejantes jardins. Anos de história vivem ali, de modo tão refrescante como o famosíssimo vinho rosé, que aplica no rótulo este centro de cultura.

Um passeio pelo centro da cidade onde nasceu um dos mais antigos países do mundo logo se transforma numa extraordinária viagem no tempo, sempre na companhia de boas gentes e melhores comidas. Aqui se percebe como pode uma cidade evoluir da Idade Média até à atualidade, quando foi tocada pelo talento do arquiteto Fernando Távora, fundador da célebre Escola de Arquitetura do Porto.

O Parque Nacional da Peneda-Gerês parece retirado de uma lenda celta, mais uma peça diferente no quadro que faz de Portugal um país tão variado apesar de pequeno. São florestas exuberantes, com cores distintas consoante as estações, cascatas de águas límpidas e a omnipresença de rochas graníticas. E, no meio de tudo, para repouso e miradouro, uma pousada.

Assinada pelo arquiteto de renome Eduardo Souto Moura, esta peça encrustada numa pedreira fez-se local de celebração de um modo muito peculiar e transversal de viver o futebol: lideradas por mulheres, famílias inteiras acompanham a equipa local, o Sporting de Braga, numa peregrinação que se torna festa popular. O cenário vira em palco e as bancadas acolhem tanto o espetáculo quanto o terreno de jogo.

Um dos «velhos» palácios reais, datado do século XVIII, sede da Secretaria de Estado da Cultura além de biblioteca e museu, recebe uma das mais provocadoras artistas contemporâneas, Joana Vasconcelos, que faz furor com peças de grandes dimensões. O seu trabalho investiga a identidade nacional, revisitando, com ironia, cada uma das tradições, as populares como as eruditas.

Aproveitando a privilegiada localização junto ao rio Tejo, em Lisboa, a discoteca Lux é o ponto de encontro da grande noite europeia, ponto de paragem quer de grandes bandas, como dos maiores DJs da atualidade. Noite dentro, dança-se aqui como no terraço de um grande transatlântico que faz do oceano o espelho das constelações tatuadas no céu.

Paula Rêgo, uma das pintoras portuguesas de maior reconhecimento internacional, fez sua esta Casa, que Souto Moura desenhou de maneira a que a paisagem entre em cada recanto como se um quadro se tratasse. Aqui se abriga uma grande coleção de pinturas, desenhos e gravuras, suas e do seu marido, o artista britânico Victor Willing. Muitas histórias, quase sempre inquietantes.

Uma praia selvagem e inóspita, batida pelo vento, nos arredores de Lisboa, nas faldas da Serra de Sintra, faz-se lugar de todos os encontros. Parte da explicação está nos restaurantes, generosamente abastecidos de frutos do mar; mas a razão está no lado aventuroso com que se enfrentam, munidos de coragem e prancha de surf, as espetaculares ondas atlânticas. Ou apenas nos deixamos tocar pela paisagem.

A vila da Nazaré há décadas se tornou destino obrigatório, muito por via da sua proximidade com a religiosidade de Fátima e o dramatismo de uma ligação ao mar que exalta o risco dos pescadores e a dor das suas numerosas viúvas. Um cenário duro que apanha com facilidade nas malhas do seu charme, sobretudo em hotéis como este, quem arrisque ver, ouvir e saborear o pitoresco e o autêntico.

Uma das mais antigas da Europa e do Mundo, a origem desta universidade perde-se no nevoeiro do século XIII. Mas mantém-se uma das mais cosmopolitas, abrigando uma grande comunidade de estudantes internacionais, também do Brasil, sempre vestidos de negro. Com a chegada do primavera acontece a Queima das Fitas, uma gigantesca festa que faz vibrar toda a cidade e que celebra o fim de um ano de estudos.

A cada passo podemos pisar passado na cidade dos estudantes. Há histórias de amor que vibram no modo coimbrão de cantar o fado e ressoam pelas ruas. Pelas ruas e nos claustros das igrejas e dos mosteiros, como este gótico que «atracou» na margem esquerda do Mondego. Apesar de vetusto, não resiste aos olhares continuamente rejuvenescidos. De quem vem para estudar. E namorar.

Basta um instante para capturar a essência de um lugar. Navegando a ria num barco tradicional, o garrido moliceiro, vemos numa margem a memória de um passado industrial e noutra margem uma intervenção recente que se integra com elegância. Como a cidade se soube integrar e tirar partido da ria, um dos mais belos acidentes hidrográficos da costa que se espraia em paralelo ao mar por mais de 45 quilómetros.

Portugal é pequeno, mas em poucas horas pode experimentar-se a areia na praia e a neve na cadeia montanhosa de maior altitude em Portugal continental (cerca de 2000 metros). A cada momento de lazer uma pequena multidão de viajantes, de todas as gerações e proveniências, é atraído pelo branco, mas também pela imponência do cinzento rochoso. Além das ofertas gastronómicas, sendo o queijo a principal.

Oitocentos anos de História produziram um património que pode ser agora e com facilidade desfrutado de mil maneiras, algumas até íntimas. Este Mosteiro de Santa Maria da Flor da Rosa, datado do século XIV, com raízes profundas na vida antiga do país, religiosa e política, faz-se agora Pousada. Além do repouso, permite, então, que se sinta um pouco do perfume da vida que tiveram alguns dos nossos antepassados.

Mais um caso sério que surpreenderá o viajante que se atreva a cruzar os caminhos de Portugal. A Coudelaria de Alter, fundada em 1748 pelo rei D. João V, respira um ambiente único. Não apenas se apresenta como a mais antiga do mundo, dedicada ao apuro e preservação do cavalo lusitano, um dos mais cobiçados, como se dedica ao ensino da mui nobre arte equestre. O lugar possui luminosa magia.

Também lhe chamam de Diana, a deusa romana da caça, mas não passa de lenda. Apenas mais uma suscitada em território habitado desde os primeiros séculos da nossa era. Estas ruínas são o que resta do fórum romano. O centro histórico, tantos anos e povos depois, não apenas cresceu como se enriqueceu a ponto de ter sido considerado, pela UNESCO, Património Mundial. Percebe-se bem porquê.

Em zona que atinge as maiores temperaturas do território nacional (47 º C), a paisagem transfigurou-se e o roxo do rosmaninho convive agora com as centenas de painéis solares da maior central fotovoltaica do mundo, que se estende por mais de 250 hectares.

Não faltam praias, com as mais variadas configurações e personalidades, ao longo da linha que define o rosto do país. Mas o sul, destino tradicionalmente mais turístico, sobretudo na Costa Vicentina, orgulha-se de possuir algumas das melhores para a prática de desportos como o surf ou o windsurf. E entre elas a Arrifana é rainha, com a sua imponente Pedra da Agulha.

A cidade natal do navegador Vasco da Gama não podia senão estar voltada para o mar. Mas é em terra, por exemplo neste Centro de Artes, projeto dos irmãos Aires Mateus, que se faz a reflexão, artística e histórica, sobre as inúmeras marcas que o grande oceano deixa em quem aqui vive e viveu. E naqueles que partiram desta terra de pescadores e poetas.