Maurício Lima

por
João Pina

“Bem interessante!”, não se cansa o fotógrafo de dizer tentando levar-nos aos sítios que o foram entusiasmando. Parece fácil deixarmo-nos levar “pelas coisas boas que Lisboa e os outros lugares oferecem. Simplesmente esquecemo-nos do tempo, porque realmente aproveitamos e disfrutamos de situações muito agradáveis e prazerosas.” Uma viagem no tempo que nos faz esquecer o tempo.
Maurício Lima/João Carvalho Pina

Tem que ser interessante, aponta Maurício apenas como um exemplo, o modo como foi preservado o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, em Coimbra, ou a Quinta das Lágrimas, com “a história romântica do jardim, do Romeu e Julieta portugueses”, ou ainda Belmonte que conserva, além dos muitos sinais de uma herança judia, o belo castelo onde esperou horas até passar alguém que pudesse entrar no momento. “Não consigo fotografar algo em que não veja pessoas. É justamente para tentar estabelecer uma relação de proporção entre o ser humano e a beleza do lugar.”

Revisitando o longo e premiado trabalho de Lima, um dos mais reputados fotojornalistas da atualidade, parece óbvio que as pessoas ocupam muito do seu olhar. E os habitantes surpreenderam-no também pelo modo como integram a tradição no seu dia a dia, como pisam as pedras da História. “Os alunos da Universidade de Coimbra, com aquele uniforme preto, com a capa e tudo. Bem interessante essa questão da preservação dos valores históricos do país. Acho isso fundamental!” E não apenas no plano dos princípios gerais que regem a vida cultural de um país. “Há que perceber as nuances do lugar, como aquilo funciona e como a vida funciona nesses lugares, porque, além dessa questão histórica, também é importante retratar as pessoas que moram ali. O meu trabalho tem muito isso do contacto com as pessoas.”

Não será difícil fazê-lo, aqui entre nós. “Sobretudo nas cidades pequenas, nas vilas e lugares, a hospitalidade das pessoas foi algo bem interessante. Não havia nenhum tipo de restrição a serem fotografadas, fui recebido maravilhosamente bem por diversos moradores, sobretudo as pessoas mais velhas.”
De súbito, colocando-se bem pelo meio do património e da paisagem, entrou o pastel de nata e o bacalhau. “Apesar de o bacalhau vir da noruega e de outros países, a questão é como se faz: as receitas! Um dia desses alguém brincou comigo e disse que o português tem mil e uma receitas para fazer bacalhau. Basicamente, essa foi a minha refeição: eu comia bacalhau quase todos os dias, apesar de não beber – «bacalhau e vinho», não é? –, mas bacalhau até com água funciona.” No retrato de qualquer país, mais ainda quando se trata de Portugal, há que incluir os comes e bebes, a sua gastronomia – “que é maravilhosa, fantástica e pode projetá-lo no Mundo”. Podemos aqui acrescentar argumentos a favor da diversidade, pois percorrer estas regiões quase se torna viajar entre países com sabores diferentes, do pão de Sintra aos mariscos da costa de prata ou do azeite da Beira Baixa ao queijo da Serra.

A banda sonora nesta viagem deve ser o fado, que o há na mais pura celebração do tradicional, mas também esse que sofreu nos últimos anos grande injeção de sangue novo, através de nomes como Camané, Carminho ou António Zambujo, aproximando-o de novas sonoridades. Ainda que sempre com os mesmos temas do amor e do ciúme, da tragédia e da dor, ainda que com uma pitada de sentido de humor. Assim se canta cidade ao pôr do sol. “A luz de Lisboa é mesmo maravilhosa, sobretudo no final da tarde. De tal modo que as fotos foram quase todas feitas nesse horário, para ter uma uniformidade, uma linha visual interessante entre as imagens.”

Vejo, contudo, algumas bem mais noturnas. A vida excitante da grande urbe à beira Tejo surge em esplendor à porta do Lux. “A modernidade também passa por aí: as pessoas aí indo dançar, tomar copos e conversar às três horas da manhã. Achei que a vida noturna começava um pouco mais cedo aqui… E aí eu pude ver, de novo, além de portugueses, turistas num ambiente de três andares. Bem interessante lá!”


“A hospitalidade das pessoas foi algo bem

interessante, fui recebido maravilhosamente

bem por diversos moradores,

sobretudo as pessoas mais velhas.”


“A modernidade também passa por aí:

as pessoas aí indo dançar, tomar copos

e conversar às três horas da manhã.” 


“A luz de Lisboa é mesmo maravilhosa,

sobretudo no final da tarde.

As fotos foram quase todas feitas nesse horário,

para ter uma linha visual.”